Com o trailer do novo filme de Street Fighter finalmente circulando, muita gente voltou a discutir adaptações, acertos, erros e, claro, o histórico complicado da franquia no cinema. E é justamente nesse momento que vale puxar um gancho importante: existe uma adaptação que quase ninguém lembra — ou sequer conhece — e que acertou onde todas as outras falharam.
Antes de falar do futuro, é preciso revisitar o passado recente.
O trauma Van Damme
Para muita gente, Street Fighter no cinema ainda é sinônimo do filme de 1994 estrelado por Jean-Claude Van Damme. Um longa que virou cult pelo excesso, pelas frases caricatas e pelo caos nos bastidores, mas que, do ponto de vista dos fãs, falhou em capturar a essência do jogo. O foco saiu da filosofia marcial, os personagens viraram arquétipos exagerados e o universo foi transformado em uma mistura confusa de ação genérica com comédia involuntária.
Funciona como meme, funciona como nostalgia, mas não funciona como Street Fighter.
E talvez por causa desse trauma coletivo, muita gente simplesmente ignorou o que veio depois.
A obra esquecida que fez tudo certo

Em 2014 surgiu Street Fighter: Assassin’s Fist, inicialmente como web série, lançada de forma discreta e sem grandes holofotes. Depois, o material foi editado e apresentado como web movie, o que fez muita gente nem perceber que aquilo existia.
Erro grave.
Street Fighter Assassin’s Fist, de 2014, é facilmente a melhor adaptação live action da franquia. Em vez de torneios e exageros, foca na origem de Ryu e Ken, no treinamento com Gouken e no peso filosófico do Ansatsuken e do Satsui no Hado. O tom é mais sério e contido, as lutas são secas e realistas, e o Akuma é tratado como um personagem trágico e com profundidade, não apenas como um vilão caricato.
Aqui, Street Fighter não é sobre explosões ou poses para câmera. É sobre disciplina, controle, escolha moral e consequências. O Satsui no Hado não é um “power up”, é uma tentação. O Ansatsuken não é só uma técnica, é um caminho que cobra seu preço.
Mesmo com orçamento limitado, afinal era uma websérie que depois foi editada como web movie, a obra respeita o lore e entende que Street Fighter é muito mais do que simples pancadaria. Para quem gosta da mitologia do jogo, é obrigatório.
Quando fidelidade vale mais que espetáculo

Em termos puramente cinematográficos, Assassin’s Fist perde um pouco por conta do orçamento. Isso é fato. Mas ele ganha onde realmente importa para uma adaptação: respeito ao material original e roteiro. Até as posições de combate e movimentos clássicos do jogo são recriados com contexto narrativo, não como fan service vazio. Ou seja, até uma posição de luta tem história. É incrível!
Um detalhe que quase ninguém sabe

Além de tudo isso, Assassin’s Fist ainda teve um impacto curioso fora do universo Street Fighter. O ator que interpreta Ryu, Mike Moh, teve seu trabalho notado por Quentin Tarantino, o que o levou a ser escalado para viver Bruce Lee em Era Uma Vez em Hollywood.
Olhando para o futuro
Com um novo filme vindo aí, o desejo é simples: que Hollywood finalmente entenda a lição que uma web série de baixo orçamento já ensinou há mais de uma década. Street Fighter funciona melhor quando leva seus personagens a sério, quando respeita sua mitologia e quando entende que, antes de ser espetáculo, é filosofia marcial.
O mundo realmente precisa de uma continuação de Assassin’s Fist 🙌
E talvez o novo filme possa, finalmente, aprender com ela.











