A perspectiva do “padrinho do natal”
A voz autoritária de Macaulay Culkin na classificação de “Duro de Matar”
Macaulay Culkin, cujo rosto é sinônimo de clássicos natalinos inquestionáveis como “Esqueceram de Mim” e “Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York”, apresenta-se como uma autoridade incontestável na definição de um “filme de natal”. Para o ator, “Duro de Matar” não se encaixa nessa categoria, apesar de sua ambientação. Em diversas ocasiões, Culkin tem defendido publicamente que, embora o filme seja “baseado no natal”, ele não é inerentemente um filme de natal. Sua lógica é que a trama de “Duro de Matar” funcionaria igualmente bem se fosse ambientada em outro feriado, como o Dia de São Patrício. Ele argumenta que os elementos essenciais da narrativa não dependem intrinsecamente do contexto natalino para se desenvolverem. Em contrapartida, ele exemplifica com “Esqueceram de Mim”, afirmando que seria impensável ambientar sua história em um feriado como o Memorial Day, pois o espírito e o enredo estão intrinsecamente ligados à magia do natal.
A convicção de Culkin sobre o tema é tão forte que ele se autoproclama o “padrinho do natal” no que diz respeito ao cinema, sugerindo que sua opinião carrega um peso significativo nesse debate. Essa postura, no entanto, nem sempre é recebida com consenso. Em uma aparição recente para celebrar o 35º aniversário de “Esqueceram de Mim”, Culkin foi vaiado por uma parte da plateia ao reiterar sua opinião sobre “Duro de Matar”. As vaias são um testemunho da paixão com que o público abraça a discussão, mostrando que, para muitos, a simples ambientação natalina já é suficiente para conceder ao filme o status de clássico da temporada. A firmeza de Culkin, contudo, serve para manter o debate vivo e relevante, forçando a audiência a refletir sobre os critérios que definem um filme de natal para além da mera decoração festiva, e questionar se um cenário festivo é o único ingrediente para tal classificação.
Os argumentos dos criadores e colaboradores
A visão dos bastidores: roteiristas, diretores e elenco debatem o status natalino
O roteirista e as pistas festivas
Contrapondo a visão de Macaulay Culkin, Steven E. de Souza, um dos roteiristas de “Duro de Matar”, oferece uma perspectiva que, embora inicialmente jocosa, aponta para elementos que sustentam o status natalino do filme. Em 2017, De Souza provocou nas redes sociais ao afirmar que “Duro de Matar” é, de fato, um filme de natal “porque o estúdio rejeitou o rascunho de Purim”, referindo-se a um feriado judaico. A brincadeira sutil esconde um argumento mais profundo. Ao ser questionado sobre o lançamento de “Duro de Matar” no verão de 1988, que para alguns desqualificaria seu título de natalino, De Souza inteligentemente apontou para o clássico “Milagre na Rua 34”. Este, amplamente considerado um filme de natal definitivo, foi lançado no verão de 1947, demonstrando que a data de estreia não é um fator determinante para a classificação temática. Além disso, o roteirista salientou a presença proeminente de uma mulher prestes a dar à luz no enredo, um detalhe que, para alguns, ecoa narrativas tradicionais da época natalina, adicionando uma camada simbólica à sua conexão com a festividade e reforçando a ideia de milagre e nascimento.
A visão da cinematografia e o espírito da reconciliação
A perspectiva do cinematógrafo de “Duro de Matar”, Jan de Bont, conforme compartilhada pelo ator Peter Billingsley, estrela de “Uma História de Natal”, reforça a tese de que o filme é, sim, um clássico de natal. De Bont teria argumentado que o ponto crucial não é apenas a ambientação, mas a jornada emocional dos personagens. Ele destaca a relação fraturada entre John McClane e sua esposa, Holly Gennaro, que ao longo do filme passa por um processo de perdão e reconciliação. “Há esperança, há alegria”, e a promessa de uma “grande manhã de natal com seus filhos”, sintetizou Billingsley sobre a visão de De Bont. Esses são, sem dúvida, temas centrais que ressoam com o espírito natalino de renovação, família e otimismo, aspectos frequentemente explorados em contos festivos. Adicionalmente, De Bont mencionou a inclusão de canções de natal na trilha sonora e a presença de neve caindo, elementos visuais e auditivos que solidificam a atmosfera festiva. Para ele, esses detalhes não são meros adereços, mas componentes integrantes que contribuem para a identidade de “Duro de Matar” como um filme intrinsecamente ligado ao natal, influenciando a percepção e o sentimento do espectador.
A intenção original do diretor
John McTiernan, o aclamado diretor de “Duro de Matar”, oferece uma perspectiva que adiciona nuances ao debate. Em entrevista ao American Film Institute em 2020, McTiernan admitiu que o filme não foi originalmente concebido com a intenção de ser um filme de natal. No entanto, ele reconheceu que “a alegria que veio dele foi o que o transformou em um filme de natal”. Essa declaração é particularmente reveladora, pois sugere que a percepção do público e o impacto cultural que a obra gerou ao longo dos anos superaram a intenção inicial dos criadores. A “alegria” mencionada por McTiernan pode ser interpretada como a catarse proporcionada pela vitória do bem sobre o mal, a emoção da reconciliação familiar e a experiência de compartilhar um filme emocionante durante a temporada festiva. Isso implica que a identidade de um filme de natal pode ser moldada não apenas por seus elementos internos, como a trama e os personagens, mas também pela forma como ele é recebido e abraçado pela audiência em um contexto cultural específico, tornando-se uma tradição de visualização para muitas famílias.
A palavra final do herói
Talvez a voz mais definitiva entre os envolvidos diretamente na produção seja a do próprio Bruce Willis, o eternizado John McClane. Contudo, sua “palavra final” veio em tom de brincadeira durante o “Comedy Central Roast of Bruce Willis” em 2018. Com seu humor característico, Willis declarou: “Eu fiz este roast por uma razão e por uma razão apenas, para resolver algo de uma vez por todas. Agora, por favor, ouçam com muita atenção: Duro de Matar não é um filme de natal! É um maldito filme de Bruce Willis!”. Embora proferida em um contexto cômico, a afirmação de Willis ressoa com a ideia de que o filme, acima de tudo, é um veículo para sua persona de herói de ação, transcendo quaisquer classificações de gênero ou época. Sua declaração, embora não seja uma análise cinematográfica formal, adiciona uma camada de ironia e metalinguagem ao debate, sugerindo que a verdadeira essência de “Duro de Matar” reside em sua identidade como um clássico de ação estrelado por um dos maiores nomes do gênero, um entretenimento puro que se mantém relevante por si só, independentemente da época do ano ou das decorações festivas.
A complexidade da definição e o legado cultural
O prolongado debate sobre se “Duro de Matar” é, de fato, um filme de natal, longe de ser uma mera discussão acadêmica, reflete a complexidade em definir o que realmente constitui uma obra cinematográfica para a temporada festiva. As opiniões diversas – desde a postura intransigente de Macaulay Culkin, que exige uma ligação intrínseca ao espírito natalino, até as nuances oferecidas por Steven E. de Souza e Jan de Bont, que apontam para temas de reconciliação, esperança e elementos simbólicos – demonstram que não há uma métrica única e universalmente aceita. Este caleidoscópio de perspectivas enriquece a análise cultural e convida os espectadores a ponderar sobre o papel dos filmes em suas próprias tradições.
A percepção de John McTiernan de que “a alegria” do público o transformou em um filme de natal é particularmente perspicaz. Isso sugere que a classificação de um filme muitas vezes transcende a intenção original de seus criadores, sendo moldada pela recepção cultural e pela forma como o público o adota e o reincorpora em suas próprias tradições de visualização. A declaração bem-humorada de Bruce Willis, que o descreve como “um maldito filme de Bruce Willis”, sublinha a natureza singular e potente do filme como um espetáculo de ação inconfundível, independentemente de seu pano de fundo sazonal, afirmando sua identidade como um pilar do cinema de ação.
No final das contas, “Duro de Matar” é um fenômeno cultural que resistiu ao teste do tempo, mantendo-se como uma exibição anual para milhões de pessoas em todo o mundo. Seja considerado um filme de natal por sua ambientação e temas de família e redenção, ou apenas um filme de ação ambientado no natal por sua trama intensa e ausência de elementos mágicos festivos, ele consolidou seu lugar no cânone do entretenimento. O debate em si, com suas paixões e defensores de ambos os lados, não diminui o legado do filme; pelo contrário, adiciona uma camada extra de intriga e apelo, garantindo que a saga de John McClane no Nakatomi Plaza continue a ser discutida, assistida e amada por muitas gerações futuras, reforçando seu status como um clássico atemporal que, para muitos, simboliza a dualidade da luz e da sombra que o natal pode trazer, oferecendo uma alternativa emocionante à farelo festivo mais tradicional.
Fonte: https://www.ign.com











